Apresentação para a edição brasileira
Prof. Claudio Magalhães
Este livro revisita o trabalho de um professor, mas aqueles que procuram este livro como um manual com regras claras e precisas podem considerar esse método – desenvolvido no último século – excessivamente subjetivo para o ensino e prática das estruturas de relacionamentos visuais. O que é apresentado aqui são exercícios para desenvolver uma “compreensão intuitiva de forma e espaço”, e isso requer um processo laborioso, que inclui experimentação, criação de variantes, análise e exercício de crítica. Com eles, a moldagem gradualmente se torna mais consciente e eficiente em um diálogo entre forma e olhar (análise) e, finalmente, entre o olhar e a forma (design). Tal aprendizado requer um grande investimento de tempo. No entanto, esse tempo é cada vez mais escasso na formação do designer brasileiro atual, em favor do marketing ou análises sociais de contextos de projetos. Aí reside a relevância de lançar “Elementos do Design”.
Para qualquer discussão, a aquisição de vocabulário é fundamental. Para ver, também é necessário descrever, falar sobre o que você vê. Alguns elementos de design podem ser explícitos – pontos, linhas, planos, espaço, cor, valor, textura – mas muitos outros estão escondidos. E este livro trata de como perceber, identificar e articular a linguagem visual através do confronto com a forma. Daí a introdução de conceitos como os eixos (dimensão unidirecional de um objeto); o gesto (o deslocamento geral em direção a uma forma ou espaço); o equilíbrio (uma composição dinâmica não necessariamente simétrica) que propõe movimento ou ritmo; a tensão (vibração entre as relações vividas) por oposição, por hierarquias (dominação ou subordinação); e o espaço, além do próprio objeto, positivo mas também negativo. O método Rowena Reed nos traz o elo perdido entre o que Kandinsky escreveu em seu livro “Ponto, Linha, Plano” e o recente período de ênfase na semântica do produto.
A questão da aplicabilidade ou validade do método pode surgir durante a leitura do texto. Isso parece ser uma busca constante na área do design. Mas logo ficará evidente que este livro é apropriado, pois propõe reequilibrar o equilíbrio da antiga disputa entre o papel das funções operacionais e aspectos estéticos na direção do projeto. Com o tempo, o design se popularizou por meio de conceitos como Design Estratégico, Design Thinking e Design de Serviços, que se concentram nas fases de planejamento e análise do projeto ou trabalham com certa desmaterialização, voltamos à concepção como o núcleo do design para pensar como designers.
A Sra. Rowena, percebendo a nova área que estava surgindo durante o século XX, sabia que cada design envolvia uma nova conjectura e nem sempre poderia usar a mesma solução para novos problemas de design. E isso é um dos fundamentos das Fundações do Design. Um conjunto de proposições que não se transforma em respostas prontas para qualquer situação de design, mas que estrutura o raciocínio e instrumentaliza um olhar. Portanto, o destaque está no “padrão de relacionamentos visuais abstratos”. Existem trechos no livro que apresentam associações com dança e música para ilustrar alguns relacionamentos, como se houvesse algo ainda mais universal entre as artes. Os designers são compreendidos aqui como compositores – coreógrafos, cenógrafos, arranjadores, artistas, arquitetos, etc. – cada área com seus próprios elementos e “não elementos” (vazio, estático e silêncio), a serem organizados no tempo e no espaço.
Este livro também retrata um momento interessante nos Estados Unidos. A relação de dependência entre os contextos industrial e cultural de um país é evidente. Em um período de grande expansão industrial, a demanda foi atendida criando uma escola, tanto no que diz respeito à reflexão sobre o ensino, quanto à criação física de um espaço, nesse caso o Pratt Institute, onde a Sra. Rowena lecionava.
O contexto da época também está presente em vários trechos por meio das escolhas de materiais e processos. É importante observar que hoje existem e ainda haverá muitas outras ferramentas e tecnologias que podem ser usadas para expandir as possibilidades de estudo e pesquisa de forma. Não apenas novos materiais como espuma de plástico em vez de blocos de sal, ou ferramentas como impressoras 3D, mas também recursos de registro e estudo de imagem tridimensional, como fotografia digital ou rastreamento ocular.
Finalmente, outro aspecto importante desta publicação no Brasil é o reconhecimento dado ao trabalho de uma professora, ou mais especificamente, uma professora-pesquisadora. Pode parecer que nos dias em que a Sra. Rowena lecionava era mais fácil desenvolver qualquer método, pois era o início de um campo. Mas em qualquer momento, haverá novas circunstâncias que se tornarão um prelúdio para uma nova era. Portanto, em qualquer instituição educacional, deve haver espaço para a pesquisa, compreendida como um investimento em alternativas para um ensino inovador no futuro.
E isso nos faz pensar: que tipo de designers o Brasil precisa? Essa é uma pergunta difícil e perigosa, pois pode levar a uma determinação do conteúdo (design) para o contexto (mercado). Considerando que o país parece optar por uma ecologia de inovação sobrecarregada e burocrática, é aconselhável que os designers também busquem alternativas para atender à demanda, caminhando em direção a uma proposição mais autônoma e crítica, se possível, ou pelo menos específica para o design.
Autor: Gail Greet Hannah
Editor: Cosac Naify
Editora: Princeton Architectural Press
Editor de projeto: Jennifer N. Thompson
Designers: Tucker Viemeister and Seth Kornfeld